terça-feira, 5 de julho de 2011

CASA ARRUMADA

Casa arrumada é assim:

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sustentabilidade é pura bobagem

Por Lourenço Gimenes  (FGMF)

O título é mesmo para chocar e chamar a atenção. Se você começou a ler este texto por indignação, ótimo sinal.

Não, não creio que sustentabilidade seja, de fato, uma bobagem. Porém, buscarei mostrar nas próximas linhas que não acredito no enfoque dado ao termo, hoje, no Brasil. Acredito que cada um de nós, por mais distante que possa estar da discussão, observa com concomitante entusiasmo e desconfiança a celebração da ‘sustentabilidade’ que hoje toma conta da mídia.

Digo mídia, e não arquitetura, por duas razões. A primeira é que acho que o fenômeno é muito mais amplo que a construção civil – ele é quase onipresente. A ‘moda’ da sustentabilidade invadiu embalagens de papel higiênico, cadernos, faróis de automóveis e até solas de tênis. Sustentabilidade está em todo lugar, e principalmente onde não deveria estar: qualquer empresa, hoje, inventa um carimbo próprio para dizer que o seu produto é sustentável, mesmo que não o seja – o importante, afinal de contas, é vender a idéia da responsabilidade e, de preferência, cobrar mais caro pelo mesmo produto ruim. O exemplo mais interessante de tolice que já vi sobre o tema saltou-me aos olhos ao folhear uma revista do setor de serviços prediais. Numa propaganda de página inteira, alardeava-se a oferta de ‘serviços sustentáveis’. Não sei o que são os tais serviços sustentáveis, e suspeito que o anunciante faça ainda menos idéia do que eu. Ao ler o restante do anúncio, descobri que a empresa oferecia serviços terceirizados de portaria, segurança, manobrista e copeira para empresas. Até hoje me pergunto se um porteiro sustentável veste-se de verde, se o manobrista só estaciona carros a álcool ou se copeira só serve café orgânico. Realmente não faço a menor idéia.

A segunda razão é que eu acho que a boa arquitetura já nasce sustentável. Ou seja, é até descabido analisar arquitetura sob esse aspecto. Ela não precisa de atestado, propaganda e nem diferenciais que não a sua própria qualidade – sustentabilidade é premissa básica.

Como toda moda, por mais que gostemos, devemos olhá-la sempre com alguma cautela. Na arquitetura, o discurso predominante de sustentabilidade tem dois vetores principais: enquanto o primeiro estabelece o instrumental como o próprio partido, o segundo o insere à força num projeto fraco. Explicando melhor: ou se tenta fazer uma construção baseada num manual de ‘boas práticas’ ambientais, privilegiando os cálculos, simulações e especificações de materiais ecologicamente corretos, ou se faz um edifício perfeitamente ordinário, pasteurizado na caldeira do mercado, e se gasta uma quantidade enorme de dinheiro para corrigir o desempenho do edifício.

Deslumbrados com softwares fantásticos, estudos de insolação e ventilação, materiais tecnológicos ou simplesmente muito naturais, os arquitetos partidários do primeiro vetor passam por cima de um aspecto fundamental da arquitetura – a sua finalidade. O escopo da arquitetura é e sempre será criar ESPAÇOS. Espaços agradáveis, adequados e funcionais para o uso humano. A

arquitetura deve elevar o espírito, como diriam os grandes mestres. Fazer palpitar a alma e, ao mesmo tempo, oferecer uma solução prática para o programa solicitado. Vi poucos exemplos de uso consistente do instrumental técnico pelo simples fato de que os arquitetos que dele se servem esquecem do óbvio: instrumentos não passam meios – jamais serão a finalidade. O foco, portanto, está desviado.

No segundo caso, que considero mais grave, a questão normalmente se estrutura em volta de um interesse mercadológico tolo. Pode também acontecer de ser pura ingenuidade, mas há exemplos de espetacular ignorância – são prédios com fachada toda em vidro que usam ar-condicionado dito ‘ecológico’, ou que gastam uma verba injustificada em equipamentos diversos para compensar outras irresponsabilidades projetuais diversas. Má implantação, orientação, relação com o entorno, uso equivocado de materiais e técnicas parecem repetir-se incansavelmente na paisagem urbana.

Olhando para trás, a boa arquitetura brasileira modernista já incorporava conceitos muito simples e eficientes, naturalmente integrados à própria arquitetura. Aquela arquitetura era cuidadosa na forma como controlava o sol tropical, provia iluminação e ventilação naturais, criava espaços generosos onde se fundiam o edifício e o entorno, em meio a jardins belíssimos com espécies locais e generosamente permeáveis. Ao mesmo tempo, trazia para a arquitetura a expressão da própria arte de um povo, ao desenvolver uma linguagem própria e também ao acolher na própria construção manifestações artísticas de outras disciplinas (o saudoso Athos Bulcão, que recentemente nos deixou, é um exemplo). É claro que havia também a arquitetura modernista ruim, dura, ineficiente, até sem emoção. Mas será que para afirmarmos o ‘progresso’ e marcarmos a nossa participação nessa história precisamos nos livrar até mesmo das boas lições do passado? Penso em quanto tempo e oportunidades perdemos.

A boa arquitetura, como já disse, nasce sustentável. Não é o sistema de coleta de água que a faz merecer o título. A preocupação com o ‘tripé social-econômico-ambiental’ deve fazer parte dos mecanismos de criação de um espaço melhor, mais eficiente, correto e, sempre, emocionante. Não precisamos fazer uma casa na árvore ou insistir que um prédio de taipa é ambientalmente correto. A maior parte da população mundial já vive em cidades, dispomos de tecnologias avançadas, somos capazes de reciclar, temos indústrias competentes – mas também não precisamos passar por cima da boa concepção, só porque temos aparatos eletrônicos para corrigir a preguiça de quem se acomoda a fórmulas de projeto fácil. E não podemos ignorar que o ‘tripé’ envolve desenvolvimento e inclusão social, capacitação de mão-de-obra e educação, assim como a desejada economia de recursos nos alerta para o limite entre o voluntarismo formal e a inconseqüência projetual. Prédio sustentável que custa o dobro do convencional não é sustentável.

Sinto falta do erro – o erro bom. Sinto falta do ensaio. Sinto falta do espírito questionador que, sabendo aonde quer chegar, arrisca soluções inusitadas, inovadoras, utiliza o projeto como sua própria pesquisa. Precisamos desenvolver novas fórmulas, ainda que aprendendo com o passado. Precisamos de uma nova linguagem que signifique toda essa preocupação.

Precisamos de boa arquitetura. Isso que chamam de sustentabilidade por aí, em geral, é pura bobagem.

sábado, 2 de abril de 2011

Tragédias

Tragédias: a tendência é o aumento da frequência e da letalidade

Álvaro Rodrigues dos Santos

A continuar a omissão e/ou a insuficiência e/ou a impropriedade das ações públicas no tratamento dos gravíssimos problemas associados à ocorrência de enchentes e deslizamentos de encostas não há dúvida, as tragédias tenderão a se ampliar em sua intensidade, freqüência e letalidade. Consequência direta da incapacidade e/ou descompromisso para se tomar a elementar decisão de, no mínimo, parar de cometer os erros essenciais que estão na origem desses graves fenômenos.


Em outras palavras, nossas cidades continuam a crescer, sob os olhos e complacência da administração pública em seus diversos níveis, praticando as mesmas incongruências que as conduziram a esse grau de calamidade pública; no caso das enchentes impermeabilizando o solo, promovendo uma excessiva canalização de rios e córregos, expondo por terraplenagem o solo à erosão com decorrente assoreamento dos cursos d’água; no caso dos deslizamentos ocupando, e com técnicas as mais inadequadas, encostas serranas de alta declividade já naturalmente instáveis do ponto de vista geológico. Imagine-se, como exemplo, as imensas pressões de novas ocupações urbanas sobre as encostas da Serra do Mar em todo o litoral sudeste brasileiro que advirão das mais diversas atividades ligadas ao Pré-sal.


Ou seja, dentro dessa equação é exponencial a exposição de cidadãos brasileiros aos riscos decorrentes dessa absurda ausência do poder público no cumprimento de sua importantíssima e precípua função de correta regulação técnica do uso e ocupação do território.


Com essa definitiva e radical decisão tomada, ou seja, os erros não mais serão cometidos, tem-se à frente a difícil, mas então administrável, tarefa de corrigir o enorme passivo geológico-geotécnico-urbanístico legado por muitas décadas de crescimento urbano espontâneo, totalmente desimpedido de qualquer obrigação técnica em relação ao meio físico geológico afetado.


Sobre essas medidas corretivas, sejam emergenciais, sejam de caráter definitivo, o meio técnico brasileiro acumulou e insistentemente oferece à sociedade e aos governantes conhecimentos e tecnologias de enorme eficiência. Partamos dessa verdade: todo conhecimento técnico necessário à boa correção do passivo geotécnico e à regulação técnica da expansão urbana já existe e está plenamente à disposição da administração pública e do setor privado. O Brasil é país de ponta nessa área científico-tecnológica.


A propósito, o que hoje o meio técnico brasileiro manifesta é um angustiante e amargo sentimento de frustração diante da impotência de seus argumentos e propostas para produzir um real e decidido enfrentamento do problema.


Como também a responsabilidade não está com a Natureza, suas chuvas e suas encostas.


O que mais nos cabe almejar ou imaginar para romper com esse círculo vicioso? Apelar para que o Ministério Público passe a responsabilizar criminalmente os administradores omissos? Pois bem, está então feito o apelo.


Fonte: site VITRUVIUS

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

E o projeto deixa o papel...

Sob o sol escaldante de Floripa deste verão, começaram nesta semana as obras nos ambientes da Casa Cor SC 2011...
Alvenaria, gesso e pintura devem estar prontas até o próximo dia 04.
O ambiente Biblioteca está sendo feito em parceria com a arquiteta Paola Simoni.